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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Fitas na estrada

Fitas na estrada

Amanheceu, embora ainda havia em mim resquícios da noite anterior. Tudo o que sabia até aquele momento é que eu deveria estar ali... Aprendendo que não é preciso mais andar sozinha, que podemos sim confiar no outro sem medo do que irão pensar ou do que pode nos acontecer. Por isso, nos reunimos em equipe à espera daquele que nos guiaria na trilha.

Ele se aproxima para nos mostrar por onde começaríamos. Não era nenhum estranho para nós, Seu rosto era familiar, conhecíamos já a sua voz, embora ainda estamos aprendendo a conhecer o Seu andar.

Naquele momento, eu seria aquela que iria liderar o grupo. Não sei por que, mas senti um pouco de medo. Medo de algum momento falhar. O que logo passou quando vi a primeira fita laranja marcando o início do caminho. Durante todo o percurso haveria muitas delas sinalizando por onde deveríamos seguir. E o que encontramos?!

O balanço das árvores, os caminhos estreitos, a poeira nos calçados, as pedras grandes que havia, como se uma grande e forte mão tivesse posto elas ali e a surpresa do que poderia ter depois... É exatamente por esses detalhes que a aventura alcança voz. E não apenas isso como ela parece ter gosto, parece acenar pra mim me desafiando.

Desde pequena, quando viajava com minha família, eles sempre queriam chegar logo ao “destino final”, mas eu não me importava se ficasse um tempo a mais dentro do carro ou se eu tivesse que caminhar um pouco mais, o trajeto sempre me pareceu mais atraente, mais belo do que a própria chegada. Enquanto sentada, no banco do automóvel, eu poderia ficar por horas olhando a paisagem, observando as pessoas lá fora, tentando imaginar o que teria por trás daquelas montanhas. Dormir em uma viagem não era algo que gostava de fazer, não porque não me cansasse mas porque temia perder alguma grande beleza nas estradas que iríamos atravessar. O incrível mesmo é viver cada passo sem queimar etapas... Chegar e alcançar o que se espera é importante sim, mas não faz sentido se não tiver descoberto os tesouros que o caminho nos guarda.

Eu podia ouvi-lo... Era Ele me chamando para trilhar ao seu lado um caminho maior do que os meus. Continuamos a seguir as fitas, até que saímos da mata e fomos para a estrada. O que não esperávamos era chegar a um ponto onde simplesmente as fitas desapareceram. Em todo o caminho o nosso guia estava ali, parando sempre na última fita enquanto tentávamos encontrar a próxima. Nos dividimos enquanto cada um foi para uma direção, na tentativa de saber para onde deveríamos ir. Há momentos que não sabemos o que fazer ou que caminho seguir, e aí surgem as dúvidas, o medo, que não só fazem a gente se perder mais ainda nos distancia de pessoas que se encontram ao nosso redor. Diante disso, o guia falou algo sobre voltar à última fita. Refiz o caminho até a ultima pista na esperança de encontrar a próxima, talvez apenas perdemos ela de vista. Isso não parecia apenas um conselho, no fundo essa era a resposta, a confirmação que eu esperava. Talvez seja preciso mesmo voltar à última palavra quando parecer que não há mais pistas do que fazer. A última fita parecia falar: “Ei, Angel lembra qual foi à última direção que te dei? Você está pronta para o que vem depois? Se está, então não negligencie as primeiras.”

Agora, tudo o que podíamos fazer era seguir o guia, ele não nos falou onde estava a próxima fita, mas Ele nos levou até ela. Isso parecia desenhar pra mim trechos em nossa vida em que parece que Deus está em silêncio, e a grande razão para isso não é por Ele não tem palavras a nos dizer, mas é sinal de que é hora de seguir seus passos.------Segui-lo nos levou as fitas na estrada. Ele retorna para trás da equipe e novamente um de nós vai à frente seguindo um caminho que já foi aberto.

Ter fitas marcando a trilha era algo muito bom, mas aquela altura eu queria tanto uma cachoeira... Eu perguntei a Ele se em algum momento encontraríamos uma, o que recebi não foi um sim nem não. Essas duas respostas nunca pareceram completas para Ele... O que você faria se encontrasse uma cachoeira? E se encontrasse duas?! !- Disse o guia.

Ah, se eu encontrasse uma eu ficaria feliz, se duas muito mais feliz! Um sorriso não parecia o bastante para Ele naquele momento... E se você encontrasse três cachoeiras, Angel? Ual! Seria incrível, mas não era provável. Três?!! Não mesmo. Eu ri um pouco e sem pensar muito acabei dizendo que eu seria capaz até de dançar e cantar. Seguir as fitas nos trouxe não só a uma como as três que eu não acreditava ser possível. Atravessamos um tronco que servia como uma ponte na última cachoeira, e lá estava eu dançando meio desajeitada na frente de todos, cantando com uma voz que assustava qualquer passarinho que passasse.

Vivemos cada parte da trilha, cada passo que demos... E quando chegamos ao acampamento às fitas na estrada pareciam gritar mais alto pra mim. No fato de que muitas vezes nos perdemos por querermos saber tudo o que nos acontecerá a seguir, a verdade é que ver e viver cada passo de cada vez não só nos protege da ansiedade como também guarda surpresas Nele. A caminhada pode ser longa e o caminho estreito, mas Ele sabe nos conduzir a águas de descanso. Ainda não sei o que me espera depois, tudo que sei é que nunca mais precisarei estar perdida ou com medo porque ainda há fitas na estrada pra mim.

A diferença agora é que lá está Ele esperando para dançarmos juntos.

Seis da tarde

Eram seis da tarde quando o relógio toca, enquanto ao longe o sino de uma igreja parece soar.

Para Victor era o tempo chamando sua atenção, como se ele acena-se para si através das mãos dela... Nunca havia pensado sobre o fato de que tudo na vida é marcado por um determinado tempo, até aquele momento.

Rodeado por dúvidas, desejos e medos uma única imagem surge em sua mente tentando se sobressair. A lembrança do bolo que sua mãe fazia quando era criança e das vezes que por ansiedade e teimosia o comeu cru. Não era bem o sabor que se espera encontrar, mas era o que havia escolhido. Sempre acreditou que o forno demorava demais. Mas a verdade é que para o bolo estar pronto não dependia do ele acreditava ser bom.

A impressão que tinha agora é que novamente haviam acendido o forno. Não sabia ao certo o que sairia dali, mas conhecia bem as mãos de quem estava preparando. Não eram mais as de sua mãe nem as dele. Eram mãos maiores. Mãos que procurava segurar forte nas épocas onde o escuro o amedrontava. Elas pareciam trazer uma mensagem a ele, como se dissessem:

Espera filho, são só seis da tarde.