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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Votos meus

Ele pegou sua caixinha de madeira, a única lembrança palpável que se avô lhe deixou antes de atravessar o Atlântico. Seu avô sempre foi um curioso nato e naquele tempo, lá estava indo rumo a mais uma expedição. Em sua última viagem, trouxe-lhe uns homenzinhos de chumbo que carregava armas nas mãos, um livro escrito em um idioma que não conhecia, um carrinho de madeira todo rabiscado e uma carta. Sobre esse último, a primeira vez que abriu para ler, não entendeu nada. Só confirmou que talvez nunca entenderia seu avô, um homem de presentes estranhos.
Agora, anos mais tarde, ele abre outra vez a caixinha de madeira e relê a carta. Na primeira linha havia escrito: Te desejo alguém... (Pensando bem agora, esse é um bom presente para se querer para uma pessoa, por certo deveria ser isso que seu avô queria dizer) No restante da página escrita por uma letra cuidadosamente desenhada a seguinte mensagem.
"Alguém pra te fazer sorrir
Pra lhe roubar o chão
Enquanto aponta o caminho para o céu
Alguém para segurar sua mão
Quando sentir medo
E que saiba pintar na sua imaginação um lugar
Onde você se sinta livre
Alguém que olhe pra você
E o veja por dentro e por inteiro
E que o ame sem explicação
Que te dê presentes sem ser aniversário
Alguém que escreva bilhetes no guardanapo
Só para dizer que se lembrou de você naquele momento
Alguém para te encontrar quando quiser se esconder
E para voltar quando estiver sozinha
Alguém para não se importar com o silêncio
E para reinventar o momento
Alguém que saiba lutar
E que não tenha receio de ousar
Alguém que saiba persistir
Quando tudo der errado
E quando você nem acreditar mais
Alguém que o leve estar mais perto de Deus
Só de se estar perto.”
Pronto.Deveria ser assim. Ele encontraria alguém que seria tudo isso que seu avô descreveu. No entanto, ele estava determinado a escrever uma história direito. Por isso faz se necessário dizer que a introdução antes da carta era só ele brincando com as palavras, Vô nunca atravessou o Atlântico, nunca foi em nenhuma expedição, e as coisas que escreveu era na grande maioria sobre um novo partido político, os dos aposentados. Deu sim presentes bons e presentes estranhos.
Agora uma coisa é certa, Vô soube nos deixar algo precioso, ensinou que se fechássemos os olhos poderíamos atravessar não só oceanos, mas galáxias inteiras. Parece loucura, não é?! Eu sei. No entanto, ensinou que não haveria limites para nossa imaginação, para aquilo que estamos determinados a nos tornar. E a carta escrita por seu neto, não eram seus desejos sobre uma segunda pessoa. Eram os seus votos.
Votos que são feitos quando descobre que o amor está batendo a porta. Por isso o título de seu rabisco deveria ser mudado, embora quase sempre aconteça de confundirmos quem deveríamos ser com quem esperamos encontrar. Ele estava determinado a ser um sonho bom para o outro, uma realidade carinhosa para aqueles que amamos. Assim no lugar de “Te desejo alguém”, rabiscou em cima: “Votos de alguém que quer ser pra você...”
...Alguém que saiba te fazer escrever uma nova história
Quando todas as suas inspirações forem embora,
Quando não tiver nem caneta, nem papel,
Só a oportunidade do momento,
Quando você se lembrar apenas parte de um sonho,
Alguém que estará contigo para sonhar junto durante todos os dias.